sábado, 5 de dezembro de 2009

Malas, meias, cuecas e gestões modernas.

Fim de ano é hora de balanço, analises, avaliações e festas, para esquecer ou comemorar, festas. Sem as falsas estatísticas e chutes tradicionais dos líderes empresariais, economistas e políticos, foi um ano duro. Financeira ou emocionalmente (custo não contabilizado), foi um ano duro. Trabalho dobrado e resultado dividido. As empresas enxutas, modernas, com ativos e passivos sob controle, seguem suas trajetórias na busca de melhores dias, lutando pelo faturamento de hoje para pagar a conta de ontem, outras entretanto terão muito que negociar. Ano atípico, diferente, estranho, mas, findo.
Gostaria de traçar um paralelo de reflexão entre a crise financeira internacional, agora ampliada com Dubai, com o novo modelo de gestão que estamos tentando entender no mundo: mala, meias e cuecas. Em comum todas as crises tem a mesma origem: impunidade, ganância, descontrole, quebra de regras, normas e padrões. Cinismo, demagogia. propaganda enganosa, mentira e ilusão institucionalizada.
As grandes perguntas que nós fazemos são: O mundo acabaria se todos os corruptos e corruptores fossem para a cadeia ? Haverá futuro para a humanidade com o crescimento de gravíssimos problemas em progressão geométrica e as soluções em progressão aritmética, temperada com tão bárbaros desvios de recursos ? Para se garantir governabilidade e a democracia é necessário a manutenção destas imorais relações entre os poderes ? Como fazer a revolução pela educação com estes exemplos, sem reprovação de incapazes, sem expulsão de marginais ? O que ensinar e deixar para nossos filhos ?
Estudei administração por vocação e convicção. Gosto da minha profissão. Confesso que tive excelentes professores, alguns que hoje devem tremer nos túmulos ao perceberem que novas ciências tendem a serem implantadas, como o lobby, a esperteza, a gatunagem, a malandragem, levando seus praticantes ao sucesso, às colunas sociais, ao topo das pirâmides sociais, políticas e econômicas. É possível uma empresa normal, séria, competitiva, ética e moderna ganhar uma licitação neste país, nas diversas esferas de governo, receber em dia seus serviços verdadeiramente prestados, sem pagar pedágio ou negociar ? Com estas "máquinas" governamentais, onde muda-se as cabeças e mantém-se o corpo em metástase, sem tocar e trocar, haverá mudanças ? Aonde chegamos ? Não me refiro a pessoas, refiro-me ao sistema, ao modelo, à forma que se faz política e gestão nestes municípios, estados, país, continente e planeta, cujo Deus é o dinheiro, cada vez mais sujo, fétido, machado de sangue e vida.
Recordo-me do projeto cidade limpa de São Paulo e de Brasília, pilotados pelo mesmo partido que hoje nos brindam com filme de terror, para ilustrar o conceito de beleza, de harmonia, de administração moderna que se queria implantar. Incapazes de gerir, acabam atividades ou as mantém submissas. Cai viadutos, morre gente nas filas, abrem-se buracos, obras inacabadas ou inúteis, epidemias, violência já transformada em guerra civil, crime já organizado no estado desorganizado.
Onde estão os Conselhos profissionais, as ordens, os sindicatos, a imprensa livre que não nos defendem da pior das violências, a que destrói nossos sonhos e esperanças. Como defender um mínimo de respeito, dignidade, seriedade e honestidade nas relações humanas, governamentais e empresariais sem ser tachado de moralista, careta, ultrapassado ou outros rótulos pelos politicamente incorretos.
Vamos planejar 2010, vamos pensar novo ano e novos tempos. Vamos fazer nosso planejamento estratégico mantendo todos os princípios técnicos e éticos que nos permite dormir em paz, respeitar e ser respeitado por fiscais, olhar nossos filhos nos olhos, ter a sensação de dever cumprido e a consciência tranqüila. Vamos rezar para todos os santos e todos os sábios de todas as igrejas, para que não sejamos também obrigados a aprender a gerir nossas empresas e vidas usando malas, meias e cuecas como instrumentos de administração financeira, gestão estratégica e crescimento sustentado.
Em um dos mais fantásticos fins de campeonatos brasileiros, fala-se em malas pretas e brancas com a naturalidade que se fala de doping em atletismo ou acidentes simulados em automobilismo. O circo está comprado e pão é panetone, portanto sem pão e sem circo, mas, com palhaços.
Se faço parte do grupo que acredita que milagre é trabalho e ação, quero também ser voz de chamamento aos que acreditam ser possível mudanças pela participação, pela denúncia, pela luta, pela coragem, pela compreensão que o mundo vai além de nossas casas e empresas, que somos sócios e cúmplices deste condomínio chamado cidade, estado, país e planeta, onde devemos estar nas assembléias, conselhos e direção, mostrando que existe uma grande maioria que usa meia e cueca como peça intima e mala para levar o que precisamos nas viagens da vida.
Antonio Carlos Aquino de Oliveira
Ex - Presidente da Fenapex, Sepex-Ba e Anepo.

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