Depois de 15 meses de trabalho, iniciado em junho do ano passado (2010), finalmente chega a Salvador, a exposição Circuitos Arqueológicos da Chapada Diamantina, que será aberta na próxima sexta-feira, dia 16 (setembro, 2011), a partir das 19h, no Centro Cultural Solar Ferrão (Rua Gregório de Mattos, nº45), Pelourinho, em Salvador.
A mostra é o resultado de um projeto viabilizado desde 2008 através de convênio entre o departamento de Antropologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), autarquia da Secretaria de Cultura do Estado (Secult). O projeto pode trazer benefícios concretos para a preservação e usufruto do patrimônio cultural da Chapada Diamantina, território formado há 1,7 bilhão de anos, localizado a 400 km de distância da capital baiana e que detém as maiores altitudes do Nordeste brasileiro com pontos de mais de 2 mil metros de altura.
O convênio IPAC/Ufba possibilitou, de 2008 a 2011, a realização de um Seminário Internacional de Arte Rupestre com estudiosos franceses e a renomada arqueóloga brasileira Niéde Guidon. Referência mundial obrigatória, Guidon é doutora em Arqueologia Pré-histórica pela Universidade Paris I - Sorbonne (França), foi professora da École d´Hautes Études em Sciences Sociales de Paris, fundadora e presidente da Fundação do Homem Americano, idealizadora do Parque Nacional da Serra da Capivara e presidente da Organização Internacional para o Estudo e Preservação da Arte Rupestre.
Em três anos, o projeto Circuitos Arqueológicos do IPAC/Ufba também apoiou o 5º Seminário de Arte Rupestre e a 3ª Reunião da Associação Brasileira de Arte Rupestre, além de cursos e oficinas de Educação Patrimonial, Conservação, Arqueologia e Fotografia para cerca de 450 pessoas que passam a ser agentes multiplicadores em seis municípios da Chapada Diamantina: Lençóis, Palmeiras, Iraquara, Morro do Chapéu, Wagner e Seabra. A iniciativa propõe que sejam construídos circuitos de turismo cultural a partir dos patrimônios arquitetônico-históricos, ambiental e paisagístico existentes na região, via ações dos poderes públicos federal, estadual e municipais, e participação efetiva da sociedade civil.
A exposição Circuitos Arqueológicos integra, ainda, as ações comemorativas pelos 45 anos de fundação do IPAC – criado em 1967 – cuja programação começa hoje, dia 13, com o tombamento provisório do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e só terminará em setembro de 2012. Durante o período em que ficará em cartaz – de 16 de setembro a 23 de outubro de 2011, de terça a sexta-feira, das 10h às 18h, e nos finais de semana e feriados, das 13h às 17h – o público terá acesso na exposição a 108 fotos coloridas, de 40x30cm, que exibem patrimônios culturais edificados, paisagísticos e arqueológicos existentes nesses seis municípios.
Um mapa dos circuitos e projeções de filmes complementam a mostra. Serão exibidos os videodocumentários Carnaval de Maragojipe, Festa da Boa Morte, Desfile de Afoxés, Percursos Patrimoniais I e II e Eckenberg, todos produzidos pelo IPAC em parceria com o Instituto de Radiodifusão (Irdeb) da Secretaria de Comunicação do Estado (Secom). O Irdeb/Secom cedeu ainda os audiovisuais O outro lado da Chapada, Rio de Contas e Pico das Almas e O mundo encantado da Chapada.
“A Bahia é um dos estados mais ricos do país quando falamos da quantidade e qualidade do patrimônio material, como construções seculares tombadas, pinturas rupestres, fósseis ou grutas, e podemos tirar proveito disso”, diz o diretor geral do IPAC, Frederico Mendonça. A meta do IPAC com o projeto Circuitos é promover o desenvolvimento sustentável de municípios da Chapada via mobilização de agentes e municípios.
Segundo o dirigente estadual, o início do projeto foi marcado pelas pesquisas e proposta de manejo de Sítios de Arte Rupestre nos seis municípios. “Desde 2008, equipe multidisciplinar percorre as cidades da região identificando e registrando pinturas rupestres e promovendo atividades de educação patrimonial, para ter como resultado final os circuitos arqueológicos”, explica Mendonça.
“A atual exposição mescla passado e presente revelando a história de cada comunidade e o processo das oficinas realizadas. O que conta nessa mostra é como cada um se viu, como cada um entende o seu lugar e a sua cultura”, diz a coordenadora de Educação Patrimonial do IPAC, Ednalva Queiroz. Segundo a educadora, um dos objetivos principais foi promover a importância da memória e história locais, a conscientização dos bens culturais, a construção coletiva de identidades e sentimento de pertencimento cultural. “Somente assim essas pessoas podem vir a ser multiplicadores efetivos”, afirma Ednalva.
Na mostra, as fotos estão distribuídas em três sequências distintas: alunos em atuação nas oficinas de fotografia e de conservação curativa de objetos e papéis, sítios de arte rupestre, bens patrimoniais tombados, objetos antigos e imagens características da história local. Para a diretora de Cultura de Wagner, Sandy Araújo, o projeto Circuitos Arqueológicos está “despertando as pessoas” do seu município. “Antes, não se dava importância aos bens arquitetônico-históricos da nossa cidade. Agora, Wagner passou a ter uma diretoria de cultura mais forte, com direcionamento para o setor”, comenta Sandy.
Oficinas - A etapa mais duradoura e significativa das ações foram as oficinas e cursos, por se tratar de atividades educativas teóricas e práticas para a capacitação. Nas aulas de fotografia os alunos aprenderam a manusear equipamentos fotográficos digitais, revelação analógica, além de treinar ângulos, foco e enquadramentos. “Muitos dos adolescentes jamais haviam tido contato com fotografia”, lembra Elias Mascarenhas, fotógrafo do IPAC e um dos instrutores das oficinas. “Essa foi uma experiência única na minha vida profissional”, diz o fotógrafo Lázaro Menezes, outro instrutor do IPAC.
Moradora da comunidade de um antigo quilombo, denominado Barra ou Barra dos Negros, em Morro do Chapéu, a cerca de 390 km de Salvador, a estudante de 18 anos, Fátima do Espírito Santo, foi uma das dezenas de jovens participantes do Projeto Circuitos Arqueológicos. “A oficina foi muito boa, até porque aqui nem conhecíamos uma máquina fotográfica”, relata Fátima. “Com a oficina, tivemos o privilégio de manusear um equipamento profissional e ver nossas fotos expostas”, afirma a estudante. A secretária de Cultura de Seabra, Josiane Araújo, afirma que as oficinas do projeto aumentaram a autoestima dos participantes e valorizaram a história local. “Estamos felizes porque muitos só conheceram Seabra através desse projeto e perceberam a importância de guardar a memória do lugar”, completa. A cidade fica a 478 km de Salvador e é uma das mais populosas da região. Já as oficinas de conservação curativa de objetos e papéis serviram para que os participantes aprendessem os cuidados com armazenamento, prática de higienização e pequenos reparos de objetos antigos pertencentes às populações locais.
Parcerias - De acordo com o coordenador do projeto Circuitos Arqueológicos, professor da Ufba e doutor em Pré-história pelo Museu de História Natural de Paris, Carlos Etchevarne, a ação na área começou com a atuação do grupo criado por ele, o Bahia Arqueológica, com o projeto Homem e Natureza na Arte Rupestre, premiado pela Odebrecht com a publicação Escrito na Pedra - Cor forma e movimento nos grafismos rupestres da Bahia. Entre 2008 e 2009, com o apoio e financiamento da Petrobrás Cultural, o grupo deu continuidade ao mapeamento e caracterização dos sítios rupestres. Foi quando teve início em 2008 a parceria com o IPAC, durante o Fórum do Patrimônio Material realizado na cidade de Lençóis. Nesse evento foi assinado termo de cooperação para a pesquisa e manejo dos sítios de arte rupestre – do latim rupes que significa rochedo – reunindo vestígios, pinturas e desenhos deixados por populações pré-históricas.
Considerada por especialistas em Arqueologia como um dos mais importantes testemunhos do passado humano no planeta, essa arte é encontrada, geralmente, em abrigos, grutas e lajedos rochosos de várias partes do mundo e foi produzida por grupos humanos de caçadores-coletores, horticultores, agricultores ou pastores. Etchevarne explica que em 2010 foi dado início ao projeto de identificação, pesquisa e gestão de sítios de arte rupestre, com o apoio da secretaria de Meio Ambiente. Foram mapeados 57 sítios, com apoio das prefeituras e comunidades. “Essa é a primeira experiência na Bahia de aproveitamento com pesquisa e gestão que visa a preservação de um acervo extraordinário de sítios arqueológicos”, testemunha o renomado especialista. A próxima fase será a implementação de itinerários turísticos planejados, com a intervenção de outras secretarias estaduais, prefeituras, agentes privados e comunidades.
Chapada - É definida como uma região de serras, vales e cumes, situada no centro da Bahia, onde nascem quase todos os rios das bacias hidrográficas do Paraguaçu, Jacuípe e Rio de Contas, com formação de quedas d’água, corredeiras e cachoeiras. Na região foi criado um parque nacional, em 1985, administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) do governo federal. A vegetação é exuberante, composta de espécies da caatinga e da florada serrana, com destaque para bromélias, orquídeas e sempre-vivas. As serras abrangem cerca de 38 mil km². Depois da formação da bacia sedimentar, depositaram-se nessa região sedimentos sob a influencia de rios, ventos e mares. Posteriormente, aconteceu o “soerguimento” acima do nível do mar, e as inúmeras camadas de arenitos, conglomerados, e calcários, da Chapada de hoje, mostram esses depósitos sedimentares primitivos. Os conjuntos arquitetônico-históricos da região também são tombados como patrimônios culturais da Bahia e do Brasil.
SERVIÇO
O quê: Exposição Circuitos Arqueológicos da Chapada Diamantina – IPAC/UFBA
Quando: abertura dia 16, às 19h – até 23 de outubro de 2011
Local: Centro Cultural Solar Ferrão - Rua Gregório de Mattos, nº45, Pelourinho, Centro Histórico de Salvador
Visitação: de terça a sexta-feira, das 10h às 18h, e nos finais de semana e feriados, das 13h às 17h
Contatos: (71) 3116-6945 e 3117-7496, coad.ipac@ipac.ba.gov.br, dipat.ipac@ipac.ba.gov.br
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