sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Educação Anti-Racista: primeiras considerações

Por: José Evaristo Silvério Netto - 12/9/2011 

José Evaristo Silvério Netto
É Mestre em Educação Física, docente na Universidade Ibirapuera, Consultor Técnico em Políticas Esportivas e membro do grupo de estudos e pesquisa Africanidades-Kilombagem. E-mail: prof.jevaristo@gmail.com


 Fazer frente à inércia racista em nossa sociedade traduz-se em uma tarefa educacional das mais difíceis e emergenciais. O racismo esta impregnado em nossa cultura e, por conseguinte, diluiu-se na consciência das pessoas se tornando um fator importante na dinâmica simbólica que responde por grande parte das nossas operações cognitivas e avaliações das realidades que nos rodeiam. 

 Considerando estas questões, entendo que o racismo tornou-se cada vez mais virulento, sutil e perigoso, uma vez que operando a dinâmica simbólica e poluindo os processos cognitivos das pessoas fica invisível, ao mesmo tempo em que se expressa na forma de atitudes preconceituosas, intolerantes, e prejudiciais à saúde de toda a sociedade. O produto desta inércia racista é uma assimetria étnico/racial profunda, de grande amplitude, causando colapsos em todos os setores sociais, a citar a educação, a saúde, o trabalho, a família, o esporte, o lazer etc. Um discurso muito utilizado nos veículos de empoderamento e apropriação de instrumentos para o exercício da cidadania, como os espaços de discussão em movimentos sociais, sítios de divulgação de informações contra-hegemônicas, e outros, é o de que a educação por meio do trabalho de conscientização pode e deve ser utilizada para estancar a hemorragia e cicatrizar as feridas provocadas pelo racismo. 

Mas existe um problema, e este se localiza na duvida sobre como operacionalizar esta tarefa tão importante para o encaminhamento desta proposta educacional. Temos uma idéia do que precisamos fazer, mas nenhuma idéia de como fazer. Temos um bom domínio de conteúdos de ordem conceitual sobre conscientização e empoderamento para a luta anti-racista, mas quase nenhum domínio de conteúdos procedimentais e atitudinais para o trabalho de sensibilização e conscientização. Por conteúdos procedimentais entendemos tratar do “como fazer”, ou seja, como operar na prática, como transformar aqueles rios e oceanos de conhecimento, de teorias, em práxis pedagógica transformadora da realidade dos que estão em situação de vulnerabilidade, vitimados pelo racismo. 

 Quando pensamos em conteúdos de natureza atitudinal, entendemos que se relacionam com a condição psicológica dos indivíduos e dependem das estruturas motivacionais e emocionais dos educadores. Talvez tenhamos que nos debruçar mais em conteúdos procedimentais e principalmente atitudinais, investindo nossas energias e estudos no domínio sobre o Como Sensibilizar, o Como Tornar Significativos os conteúdos conceituais para as pessoas não empoderadas, o De Que Forma Agir durante uma aula, uma palestra, ou uma conversa com os amigos em um boteco, em um sarau de poesia, ou outro espaço de formação humana. Talvez a reflexão sobre nosso investimento individual seja mais importante neste momento do que a atenção dada à nossa representação social e, na maioria das vezes, também da organização da qual fazemos parte.

Fonte: http://www.afropress.com

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