quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O Elevador Lacerda é da cidade e do cidadão

Por Olívia Santana

Vereadora Olívia Santana (Divulgação)


Enquanto a Prefeitura do Rio de Janeiro disputa com o IBAMA o direito de administrar o Cristo Redentor, a Prefeitura de Salvador quer privatizar o Elevador Lacerda, o mais representativo dos chamados pontos mágicos da cidade. Os problemas na gestão deste importante bem público, tombado pelo IPHAN em 1996, na verdade refletem uma ineficiência administrativa generalizada na máquina conduzida pelo atual prefeito de Salvador. 

Os sinais estão espalhados pela cidade, a exemplo do abandono das praças da Piedade, do Campo Grande, da sujeira das ruas, do número de indigentes pelas calçadas. A inconstância de um governo que fez da mudança do seu secretariado e auxiliares do segundo escalão uma prática rotineira também se reflete na inconstância de investimento e administração. A Transalvador, órgão responsável por gerir o Sistema de Trânsito e Transporte Urbano, incluindo o Elevador Lacerda e os Planos Inclinados, mudou de direção pelo menos oito vezes em menos de sete anos dos dois mandatos de João Henrique. Passaram pelo cargo de superintendente nomes, como Cristina Aragon, coronel Adelson Guimarães, Ernani Orrico Neto, Matheus Moura, Miguel Kertzman, Renato Figueiredo, coronel Sérgio Raykil. Atualmente, Alberto Gordilho Filho ocupa a cadeira. É um “entra e sai” que, concretamente, impede qualquer possibilidade de planejamento e compromete a continuidade das ações que exigem menos superficialidade e mais elaboração. 

 O remédio para a gestão do Elevador Lacerda, portanto, não é a privatização. Vale mais reavaliar a visão que se tem deste extraordinário cartão postal, as técnicas de gerenciamento, oferecer condições de estabilidade e eficiência às equipes e processos de operação e manutenção do equipamento, além do necessário estudo técnico dos custos de operação para apresentar valores de tarifa de forma precisa, consistente e justa. A opção pela privatização não deve ser arrolada como uma saída fácil. Vejamos o exemplo dos ferry boats, administrados pela concessionária TWB, uma empresa privada, mas nem por isso os serviços passaram a ser qualificados. Ao contrário, não raro assistimos a uma série de transtornos no setor e o poder público sendo cobrado a interferir e solucionar os infortúnios causados às vidas de milhares de pessoas que necessitam do transporte marítimo. As frequentes paralisações do Elevador são sinais de que é preciso investir em uma reforma estrutural, e não apenas fazer paliativos. Está em jogo a segurança das pessoas que nele transitam. 

Em situações de interrupção das atividades deste secular meio de transporte é preciso estabelecer um sistema alternativo, que seja qualificado, para atender temporariamente a necessidade de mobilidade dos usuários. O esquema que vem sendo montado de dois ônibus convencionais, mais seis micro-ônibus, é aquém da demanda existente. É um serviço precarizado, desconfortável, que mobiliza negativamente a opinião pública local e de turistas. O Elevador Lacerda, além de ser um patrimônio dos baianos, é também um meio de transporte que liga as duas dimensões da cidade de Salvador. É ele que une a parte central, Cidade Alta à Cidade Baixa, banhada pela linda Baía de todos os Santos. 

Desde os andarilhos, desempregados, sem-teto até os profissionais liberais que mantêm seus escritórios no Centro Antigo ou no Comércio, funcionários públicos e as mais diversas criaturas humanas, além dos turistas que nos visitam, utilizam-se dos serviços do velho Lacerda. Sua vocação de promover subidas e descidas, levando e trazendo pessoas, atravessa o tempo desde que foi inaugurado em 1873, quando era chamado de Elevador Hidráulico da Conceição da Praia. Foi-se modernizando, incorporando os avanços tecnológicos da engenharia e se afirmando como um marco para a soterópolis. Em 1930, finalmente recebeu o nome de Lacerda, uma justa homenagem ao seu criador, o engenheiro Augusto Frederico de Lacerda. É preciso, portanto, mais respeito e cuidado com o patrimônio público e com o direito de ir e vir de todos. O equipamento é viável e pode, se bem administrado, trazer muitos dividendos para os cofres públicos. Não deve ser entregue de mão beijada. Há que zelar para que o açodamento não subtraia o bom senso e a escuta à população. *Olívia Santana é vereadora pelo PCdoB e ouvidora-geral da Câmara.

Fonte: Bahia Notícias

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