segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Renascido, Harlem apaga imagem negativa e se desenvolve em NY

Fonte: Terra
Ana Crespo - da Agencia EFE
Tradicional bairro do Harlem aproveitou auge econômico da última década para voltar a se desenvolver
Foto: EFE
O Harlem já nada tem a ver com a acinzentada descrição que nos anos 60 fazia da região Lou Reed em uma de suas canções. "Com US$ 26 na mão, vou para a Lexington com a rua 125, me sinto sujo e doente, mais morto do que vivo, estou esperando meu homem (fornecedor)", cantava em seu canção Waiting for my Man, na qual narra seu caminho até um cruzamento das ruas em Harlem para se encontrar com um traficante.

Corria o ano de 1967 e o bairro era tristemente conhecido pelos conflitos, pela população marginal e pela violência, uma imagem que continua presente no imaginário coletivo, graças em boa parte ao cinema. Mas o Harlem nem sempre foi assim, nem o é agora.
A região, que leva seu nome de um povoado holandês, fica ao norte da ilha de Manhattan, e faz limite ao sul com o Central Park e com a rua 155 ao norte. No século XVII era uma colônia flamenga, e até o começo do século XX foi pouco povoada. A partir de 1910, os afro-americanos começaram a se estabelecer ali, e por volta dos anos 20 floresceu a cultura de vanguarda nesta região, o chamado "renascimento do Harlem".
Além de se transformar progressivamente em um gueto, a partir dos anos 50 também foi palco da luta - em algumas ocasiões violentas e em outras pacíficas - pelos direitos civis dos afro-americanos.
pouco a ver com aquele lugar que Reed descreveu em sua famosa canção.

No entanto, as mudanças no Harlem se aceleraram durante a última década, na qual a região viveu um auge econômico que se qualificou de "segundo renascimento", e tem Escritórios de Clinton
O ex-presidente dos EUA Bill Clinton instalou seu escritório e o de sua fundação no Harlem em 2001, e foi uma decisão que muitos viram como determinante para a renovação da área.
Em parte devido aos aluguéis mais baixos que oferecia, Clinton escolheu dependências em um prédio na artéria principal do bairro: a rua 125, em um ponto próximo ao cruzamento onde Reed dizia em sua canção que ia comprar heroína.
"O Harlem sempre me impactou, como um lugar humano e vivo, onde há um ritmo para a vida e uma canção para o coração, onde não importa o quanto foi ruim, sua gente levantava a cabeça e continuava, e onde as pessoas eram agradecidas e cuidavam de seus vizinhos quando as coisas melhoravam", disse Clinton no dia em que se transferiu para lá. Há alguns meses a fundação se mudou para o sul da ilha, onde os aluguéis caíram de preço, embora o ex-presidente mantenha no Harlem seu escritório pessoal.

Publicitário João Silva, da Maria Comunicação
entregando a camisa "No Racism Here!" do Instituto Maria Preta, ao
proprietário de umrestaurante no Harlem.
Além disso, sua fundação e a editora Zagat publicaram em 2009 o primeiro guia desta famosa companhia dedicada exclusivamente à gastronomia, aos bares e às lojas do Harlem, outro passo para livrar a área de sua má imagem e aproximá-la de outras regiões de Nova York que já contavam com este tipo de guias, como o Upper West Side e o Upper East Side.
Seguindo o exemplo de Clinton, muitos outros se transferiram para a região durante a última década para morar ou trabalhar. Isso, além de melhorar a vida do bairro, mudou seu aspecto para sempre. Os aluguéis subiram, alguns blocos de apartamentos foram erguidos não muito longe das casas tradicionais - os "brownstones" - e também se instalaram na região grandes cadeias de alimentação e de moda, que deslocaram negócios tradicionais.
Cultura afro-americana
Apesar das transformações, há algo que não mudou no Harlem: seu status de símbolo para a cultura afro-americana. Nas barracas de rua ao longo de suas artérias principais, como na rua 125, o artesanato africano convive com camisetas e bolsas com o presidente Barack Obama como protagonista absoluto.
Ícones da luta pelos direitos como Malcolm X e Martin Luther King dão nome a bulevares, ruas e parques, da mesma forma que outras personalidades não tão conhecidas fora dos EUA, como o jogador de beisebol Jackie Robinson, o primeiro afro-americano a jogar na liga profissional americana.
Além dos nomes, há alguns cenários da história recente de Nova York que se mantêm intactos. É o caso do teatro Apollo, também situado na 125, onde foram lançadas as carreiras de estrelas da música como Ela Fitzgerald, Billie Holiday e Celia Cruz.
O local passou por uma etapa de decadência entre os anos 60 e 70, e chegou a ser usado como cinema, mas, após uma renovação, voltou a ser um espaço privilegiado para shows que conta com uma programação regular.
Por outro lado, existe um grande número de igrejas na área, que foram e ainda são importantes espaços sociais. É o caso da Mother African Episcopal Zion Church, a igreja mais antiga para afro-americanos de Nova York, cujo prédio foi construído entre 1923 e 1925, mas que como instituição existia cem anos antes.
Situada na rua 137, a igreja ainda se mantém ativa, e é uma das muitas que oferece missas gospel. Estas celebrações são um dos motivos principais que muitos turistas têm para ir ao Harlem. Os fiéis têm uma paciência infinita com eles e continuam abrindo-lhes as portas, apesar de muitos dos visitantes falarem, tirarem fotografias sem permissão ou irem embora antes do final do culto.
Presença hispana
A região é conhecida especialmente pela cultura afro-americana, mas esta não é a única que pode ser encontrada. O conhecido como "East Harlem", "Harlem Hispano" ou simplesmente "El Barrio", situado ao leste do Harlem, da rua 96 ao sul até a Quinta Avenida é, desde os anos 20, uma das maiores comunidades hispanas de Nova York.
O músico de jazz latino, salsa e mambo Tito Puente - conhecido como o "Rei do Mambo" ou o "Rei do Timbal" - nasceu e cresceu neste bairro, que também foi o lar de outros compositores como Rafael Hernández, e do músico cubano Machito.
Diversas ruas prestam homenagem a estes artistas, que tiveram papéis muito importantes no desenvolvimento da música latina nos EUA e no mundo. Os imigrantes porto-riquenhos foram os primeiros latinos que se estabeleceram ali. A partir dos anos 50, trouxeram seu idioma e seus costumes, como a cozinha e a música, que passaram a fazer parte da história e da personalidade da cidade.
Na última década, a imigração mexicana é a que mais aumentou na área, com o que novos restaurantes e lojas que refletem seus gostos e sua gastronomia foram abertos.
Museu del Barrio
Na região, na qual os cartazes em espanhol são a norma e os comércios anunciam neste idioma seus produtos, não se pode evitar a presença de instituições como O Museu del Barrio, que celebra a influência dos hispânicos na arte e na cultura.
O museu nasceu em 1969 ligado aos movimentos sociais da época, que reivindicavam mais espaços para culturas alternativas, e desde então se transformou em um ponto de referência para a arte hispânica na cidade.
Em junho inaugurou sua sexta bienal, que acolhe até janeiro de 2012 as criações de 75 artistas latinos e caribenhos que trabalham em Nova York. Nesta edição, centrada na rua como espaço para criar, o centro incluiu obras de artistas pioneiros do grafite como Lee Quiñones e Sandra Fabara.
Não é de estranhar, já que este tipo de expressão, que alguns denominam vandalismo e outras arte, nasceu na cidade também através de emigrantes hispânicos. O grafite também conta no Harlem Hispano com outro espaço, o "Graffiti Hall of Fame", situado ao ar livre nas instalações de um colégio à altura da rua 103.

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