segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Promotor nega ter chamado de nazistas moradores que pedem desinstalação de albergue na zona oeste de SP


Na rua Cardeal Arcoverde, zona oeste de São Paulo, o tema da instalação de um albergue da prefeitura no número 1.968 é quase um tabu. O motivo do silêncio dos moradores e comerciantes em relação ao assunto se deve ao pedido de instauração de um inquérito policial para apurar se houve intolerância social por parte daqueles que assinaram um documento entregue ao Ministério Público de São Paulo pedindo que o albergue não fosse instalado naquele endereço. Hoje o local funciona na mesma rua, porém no número 3.401.
O promotor Mauricio Antonio Ribeiro Lopes, que pediu a investigação do caso à Decradi --delegacia especializada em crimes de intolerância--, disse no ofício que encaminhou que “é de provocar inveja a qualquer higienista social do 3º Reich a demonstração de tal insensibilidade”. A alusão ao regime do ditador alemão Adolf Hitler irritou os moradores, mas Lopes, no entanto, nega ter chamado os moradores de nazistas."Os transeuntes vão se assustar", dizem comerciantes da região
  • Ele alega que pediu a investigação do caso por ter ficado preocupado em ver que determinados trechos do documento entregue ao Ministério Público mostravam preocupação em haver em uma mesma região instituições de ensino, crianças e jovens convivendo com moradores de rua. “Havia uma clara demarcação de apartheid. Tenho horror da perspectiva de repetição de movimentos totalitários”, defende. Lopes disse ainda que está à disposição para falar com os moradores e comerciantes ou com o advogado que os representa. 
Uma senhora que mora há 50 anos em frente ao local onde o albergue deve ser instalado, que prefere não se identificar, ironiza: “Então quer dizer que depois dos 80 anos eu virei criminosa?”. Entre os argumentos dados por ela e outros moradores estão o fato de que a calçada pode ficar tumultuada com a espera dos moradores de rua para entrar no abrigo, o que atrapalharia também o acesso ao prédio residencial que fica ao lado e aos ônibus que param em um ponto poucos metros à frente do local.

Luiz Carlos Tucho, o advogado que representa o grupo, diz que os moradores e comerciantes estão pasmos e perplexos com as colocações do promotor. “Ninguém questiona a postura técnica dele, mas sim a verborragia que cometeu ao entender que aquele grupo é segregacionista. Ao ir além da decisão técnica, ele se perdeu”, afirma. Segundo Tucho, os moradores e comerciantes da região também criticam a falta de planejamento da prefeitura, já que, de acordo com ele, ninguém foi consultado.

Embora para a reportagem do UOL Notícias muitos moradores e comerciantes tenham admitido serem contra o albergue no local, o advogado diz que o albergue “seria bem-vindo se os moradores pudessem participar”. Para ele, o grupo teme o abandono da região. “Certamente farão o mesmo que fizeram com a Cracolândia, que ficou abandonada”, afirmou.

A comerciante Denise Matazo tem uma loja quase em frente ao novo endereço do albergue e se diz preocupada com a possível queda de movimento. Para ela, o comércio já sofre com o fato de haver pouco lugar para estacionamento, e por isso depender muito de pessoas que passam a pé pela rua. “Os transeuntes vão se assustar com algumas coisas. Essas pessoas vêm com cachorro, carrinho, vão fazer fila, vão causar transtorno”, declara.

Até o fim da tarde desta terça-feira (18), de acordo com a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo), a Decradi não havia recebido ainda o ofício do promotor. A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social informou que a prefeitura não iria se manifestar sobre o caso. De acordo com a assessoria de imprensa, a obra teve início em 4 de outubro e deve levar cerca de 60 dias para ser concluída. O motivo da mudança seria instalar o abrigo em uma construção mais nova, onde poderão ser abrigados 100 moradores de rua, 20 a mais do que a capacidade do albergue atual.
Fonte : Folha de São Paulo/ uol

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