quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Racismo, Aqui Não! - Tonho Matéria


Como disse Carlos Moore, “o poder é um produto do racismo” e a cada dia eu tenho me dado conta dessa falta de oportunidade gerada pelas elites que passo a passo nos tem negado o direito de livre acesso em diversos ambientes onde o que se produz e o que se consome são originados pelas mãos do negro. Mais não é só a elite branca que faz isso, a elite negra também reproduz esses efeitos que ora nos deixa perplexo em saber e ter consciência de que o poder é mesmo um descentralizador de ideais. O poder é perigoso e sendo assim, não me vejo morando mais aqui nesta cidade onde não tenho oportunidade de exprimir meus sentimentos por causa desse poder que não me deixa caminhar.

Tenho consciência da minha capacidade artística e cultural e sempre que tento promover um projeto para esta cidade eu não consigo captar recursos e nem apoio para desenvolvê-lo. Isto é uma pena porque com a minha forma de ver e traduzir a música eu posso criar oportunidades para outros atores e ajudar a manter as matrizes culturais mais ativas e bem mais entendidas. Mas percebo que não há interesse em divulgar a nossa história.

Tudo para a arte do povo negro onde não há interesse terceiros tem que ser a base de projetos inscritos em editais, que realmente ditam quem pode e quem não pode fazer parte do bojo dos negócios. É olhando para o lado desses interesses que a contrapartida engorda as contas particulares e isto realmente é uma pena.

O artista negro tem que se submeter à humilhação, ao descaso, à negação como se esse artista estivesse morrendo de fome, precisando de apoio para ele e não para projeto. Estou cansado de só ser convidado até mesmo por meus colegas negros para dar canjas, e eles esquecem que canja também é trabalho e gera despesas. Esquecem

que não se pode ter de graça a única coisa que o sujeito tem para sobreviver.

Então eu aproveito esta campanha belíssima para soltar meu grito, Racismo, Aqui Não!. Aqui nesta cidade também mora um cidadão honesto e capaz de fazer uma criança entender que no futuro ela pode sonhar como sonharam todos visionários negros. Por isso, é preciso dar um basta nesta hipocrisia.Aprendi com Cazuza que a burguesia fedia, e agora creio que não só a burguesia fede como todos os indivíduos capazes de negar ao negro seja ele na música, nas religiões de matrizes africanas, na capoeira, na literatura, nas artes plásticas, etc. seu

direito de liberdade de expressão.

Quando Neguinho do Samba morreu, o que mais apareceram foi pessoas dizendo que a Bahia perdeu um grande ícone, só que muitas e muitas vezes Neguinho viveu batendo na porta dessas mesmas pessoas buscando apoio para colocar seu bloco Didá no carnaval e era muito difícil ter acesso a essas pessoas. Mais depois que você morre é lembrado como herói, esse é o papel do poder, ele sempre nega a sua importância enquanto vida e só te enaltece em comemorações póstumas. Tudo é fruto do descaso.


Tonho Matéria - Cantor, Compositor,Mestre de Capoeira, Publicitário , Diretor do
Bloco Afro Capoeira

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