quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Buscando seu espaço na China - Brasileiras lutam contra a censura e a falta de incentivo para promover filmes nacionais em Pequim


Cláudia Trevisan - Correspondente
O dinheiro é curto ou inexistente; o apoio institucional, escasso; a censura, severa. Ainda assim, três brasileiras se esfalfam para levar o cinema nacional ao outro lado do mundo e apresentá-lo aos chineses, aos compatriotas saudosos e à crescente comunidade estrangeira que habita a segunda maior economia do mundo.
 
Entre os dias 18 e 22 de novembro, o Festival de Cinema Brasileiro na China ganhará sua segunda edição, mais ampla que a realizada no ano passado. O evento terá pela primeira vez um júri de cinco pessoas, entre os quais Xie Fei, o integrante da quarta geração de diretores chineses que em 1993 ganhou o Urso de Ouro em Berlim com A Mulher do Lago das Almas Perfumadas.

No comando do festival estão a curadora Anamaria Boschi, de 34 anos, e Vanessa Mastrocessario Silva, 33, que passaram os últimos meses em busca de patrocínio para a mostra, sem muito sucesso. “Nós contávamos muito com as empresas brasileiras instaladas aqui, mas não houve apoio. Eles nos disseram que teríamos que ter inscrito o projeto na Lei Rouanet”, diz Silva.
O orçamento de 150 mil yuans (R$ 41,5 mil) está sendo enxugado e os gastos essenciais são bancados pelo grupo Brasileiros em Pequim (Brapeq), que é o organizador oficial do evento. A entidade tinha 50 integrantes quando foi criada, em 2007, número que saltou para 600 atualmente. O evento também recebeu US$ 2 mil do governo brasileiro, obtidos por meio da Embaixada do Brasil em Pequim.
Sem apoio financeiro de nenhuma instituição, a paulistana Fernanda Ramone, de 32 anos, tira dinheiro do próprio bolso para realizar o DocBrazil, o festival de documentários que estreou em 2010 e acaba de ganhar sua segunda edição em Pequim, Xangai, Tianjin e Shenzhen. 
“A ideia nasceu de uma inquietação pessoal de mostrar a cultura brasileira aos chineses”, afirma Ramone, que vive há sete anos em Pequim e é curadora, patrocinadora, organizadora e relações públicas da mostra.
Boschi fez a seleção dos filmes para o Festival de Cinema entre março e julho, assistindo a pilhas de DVDs enviados do Brasil para a China por inúmeros portadores, aos quais os filmes chegavam pelas mãos de seu pai. 
Da pilha de DVDs saíram 18 filmes, que tiveram de ser submetidos à poderosa Administração Estatal de Rádio, Filme e Televisão, responsável por dar sinal verde a todas as produções que chegam ao público chinês. Os censores consideraram oito títulos ofensivos à sensibilidade local e vetaram sua exibição. Entre eles estão Dzi Croquettes, de Tatiana Issa e Raphael Alvarez, Linha de Passe, de Walter Salles e Daniela Thomas, eMangue Negro, de Rodrigo Aragão.
A seleção que será exibida inclui sete longas e três curtas de animação, que refletem o objetivo de misturar gêneros e temáticas. “Tentei fugir do filme favela até o fim”, ressalta Boschi, que não resistiu e escolheu 5 X FavelaAgora por Nós Mesmos, produção de Cacá Diegues.
O diretor André Klotzel, de Confissões de um Liquidificador, deverá encarar a travessia ao Oriente e abrir o festival, no dia 18 de novembro. Mas as organizadoras ainda não sabem como levá-lo até a China. A TAM, uma das poucas patrocinadoras do evento, dará duas passagens de classe executiva, mas só até Paris, pois não tem voos para Pequim. Com a ajuda da Embaixada do Brasil, Boschi e Mastrocessario tentam convencer a Air China a bancar o outro trecho, mas ainda não obtiveram resposta. Enquanto isso, tentam definir quem será o segundo convidado da mostra.
Legendas. Além dos problemas logísticos, os dois festivais apresentam um desafio adicional: os filmes e documentários devem ter legendas em chinês. Ramone, do DocBrazil, contratou uma empresa de tradução para legendar os sete documentários que exibiu neste ano, entre os quais estão O Que a Gente Não Inventa Não Existe, de Estevão Ciavatta, eNo Traço do Invisível, de Laura Faerman e Marilia Scharlach. Boschi e Mastrocessario contam com o trabalho voluntário de estudantes de Português em universidades chinesas e da presidente do Brapeq, Raquel Martins, brasileira que passou a maior parte de sua vida em Pequim.
Fonte : Estado de São Paulo

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