Marvin Shepard viveu por 10 anos nas ruas do Bronx. Ele vive há dois
anos em um apartamento
anos em um apartamento
Não distante da Major Deegan Expressway, no Sul do Bronx, fica uma plataforma de metrô abandonada onde alguém colocou uma cadeira de plástico, um colchonete fino e uma mesa de cabeceira. Perto dali, em um velho canteiro de obras, um caminhão-guincho está cercado de móveis descartados suficientes para parecer um quarto improvisado.Mas os moradores de rua que antes viviam nesses lugares se foram.
Injeções de dinheiro do governo revitalizaram muitos bairros pobres no Bronx, mas o problema das pessoas que vivem nas ruas persistiu. Agora uma nova estratégia está mostrando resultados surpreendentes: o número de moradores de rua no distrito caiu aproximadamente 80% desde 2005, segundo uma recente estimativa da prefeitura.
A administração Bloomberg disse que conseguiu atraí-los para fora das ruas ao abrir pequenos abrigos, mais convidativos, que chama de Safe Havens (abrigos seguros), que costumam ter 40 camas cada. O Departamento de Serviços para Sem-Teto também contratou uma grupo sem fins lucrativos em cada distrito para percorrer as ruas 24 horas, sete dias por semana, e persuadir os moradores de rua a se mudarem para os abrigos.
Nos Safe Havens, que começaram a funcionar em 2007, os grupos sem fins lucrativos ajudam os moradores de rua adultos a encontrarem lares permanentes com serviços sociais próximos.
“A prefeitura reconheceu que era hora de mudar a forma como lidava com os moradores de rua”, disse Douglas Becht, o diretor da equipe de engajamento dos moradores de rua do BronxWorks, o grupo sem fins lucrativos do Bronx. “O amplo sucesso mostra que o sistema que criaram é realmente muito bom.”
Esse modelo também está tendo sucesso em outros distritos, apesar de não tão acentuado. Por toda a cidade, o número de moradores de rua caiu 40% desde 2005, segundo levantamentos oficiais.
“Por muito tempo, nós apenas oferecíamos abrigo e esperávamos que a reação seria diferente, mas as pessoas eram consistentes em sua recusa”, disse Seth Diamond, o comissário do Departamento de Serviços para Sem-Teto. “Então adotamos uma abordagem diferente.”
O impacto é evidente na transformação de um ex-marine chamado Marvin Shepard, 51 anos, que antes estava entre os mais difíceis de engajar. Shepard passou 10 anos nas ruas do Bronx, mudando-se de um veículo abandonado para outro, roubando para financiar seu vício em crack.Ele se lembra de seu último dia nas ruas, quando estava morando na cabine de um caminhão-guincho, perto da passagem subterrânea onde ele pedia esmolas. Alguém bateu na janela do caminhão e então falou.“Marvin, você está pronto?” disse a mulher.
A funcionária de contato vinha fazendo aquela pergunta para Shepard há meses. “Eu sempre dizia: ‘Pare de me amolar’”, disse Shepard em uma entrevista no apartamento do Bronx onde atualmente mora. “Mas à medida que você fica mais velho, as ruas começam a quebrar você.”
Em 2005, quando a prefeitura realizou o primeiro levantamento dos moradores de rua, o número estimado foi de 4.395 pessoas morando nas ruas da cidade e seus metrôs. Neste ano, em janeiro, o número estimado foi de 2.648.
A taxa de declínio foi mais acentuada no Bronx, onde neste ano havia aproximadamente 115 moradores de rua, em comparação a 587 há seis anos. Os levantamentos, chamados Hope (sigla em inglês para estimativa da população de moradores de rua), são realizados em uma noite a cada ano, quando o Departamento de Serviços para Sem-Teto envia equipes de voluntários para realizar um levantamento em áreas de amostragem em ruas, parques e estações de metrô da cidade. A prefeitura calcula o número total de moradores de rua com base nas amostras.
A população sem-teto continua se reunindo em certos locais, especialmente Manhattan, que tradicionalmente conta com o maior número de indivíduos sem-teto, e onde o declínio não foi tão acentuado.
Um passageiro passando pela Estação Pensilvânia pode se perguntar se realmente ocorreu algum declínio; os funcionários de contato têm tido dificuldade para persuadir os moradores de rua a partirem.Havia 786 moradores de rua em Manhattan neste ano, segundo o levantamento, em comparação a 1.805 em 2005, uma queda de 56%.
Apesar da prefeitura comemorar essas estatísticas, nem todos as aceitam.Patrick Markee, um analista de políticas da Coalizão pelos Sem-Teto, um grupo de defesa, disse que o número de moradores de rua realmente diminuiu, mas ele disse ser impossível avaliar essas tendências, porque as autoridades não divulgam detalhes sobre como a informação foi compilada.
“O que você encontrar em uma única noite em um bairro em um ano será diferente do que você encontrará em outro bairro em outro ano”, disse Markee. “As comparações ano a ano são completamente ridículas.”
Os levantamentos não incluem as famílias que vivem em abrigos familiares, que geralmente são encabeçadas por pais com dificuldades para encontrar uma moradia ou pagar por ela. A cidade tem sistemas de abrigos separados para famílias e indivíduos.
O número de famílias em abrigos atingiu uma alta recorde após a recessão e certamente aumentará, porque a cidade parou recentemente de subsidiar moradia permanente para as famílias que deixam os abrigos.
Em agosto, o BronxWorks, que realiza o contato nas ruas do Bronx, realizou um banquete chamado “Faces do Sucesso” para centenas de moradores de rua que o grupo ajuda. Alguns estavam fora das ruas há cinco anos. Outros há apenas um mês.O evento tinha o ar de uma reunião de ex-alunos, mas os participantes dividiam memórias dos abrigos em vez de escolas, de recuperação em vez de carreiras. “Acredite em mim, funciona”, disse Teddy Dukes, 48 anos, que recebe o crédito por ser o primeiro pedinte de esmola a carregar o cartaz, “Por que mentir? Eu quero uma cerveja”.Ele morava em uma plataforma abandonada do metrô sob a Major Deegan Expressway. “Agora eu tenho uma vida de novo”, ele disse.
Shepard falou para o público. Como alguns dos outros ex-moradores de rua homenageados naquela noite, sua vida nem sempre foi sombria. Ele cresceu em uma família operária rígida, jogou futebol americano no colégio e se alistou no Corpo de Marines após a formatura. Ele posteriormente se apaixonou por uma mulher que usava drogas e logo passou a usá-las. Perdeu seu emprego e viveu com outra mulher. Quando ela o dispensou, ele foi parar nas ruas.
Recentemente, Shepard concordou em mostrar a um repórter alguns dos lugares onde morou nas ruas, a primeira vez que retornava desde que ficou sóbrio. Ele caminhou por um mundo que não era mais seu, como se fosse um sonho. Ele mora em um apartamento com serviços sociais próximos há mais de dois anos. Seu local favorito em seu apartamento é uma parede próxima da porta, onde ele colocou as fotos de sua filha de 10 anos, com a qual voltou a conviver.“Nem todo dia é bom”, ele disse em seu apartamento. “Mas meu pior dia aqui é melhor do que meu melhor dia nas ruas.”
Tradução: George El Khouri Andolfato
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