segunda-feira, 21 de maio de 2012

O eco das cotas: o grito dos excluídos por Taísa Silveira

A atual decisão do STF sobre as cotas demonstrou mais uma vez que o Brasil está mudando. Seja pelo que alguns veem dizendo que “ser preto hoje, está na moda” seja pelo reconhecimento da igualdade de direitos entre todos os cidadãos brasileiros, o fato é que os senadores ao votarem unanimemente a favor das cotas, pontuaram um marco na história dos negros do Brasil e uma pequena arranhadura na elite branca brasileira. 

As cotas são constitucionais sim, e representam um movimento de reparação e não de esmola – como muitos preconizaram – da sociedade brasileira para com aqueles que sempre estiveram à margem ao acesso dos serviços legítimos e básicos dos cidadãos. As cotas representam inclusão, coisa que nunca houve desde que os negros africanos pisaram nesta terra e seus descendentes perpetuaram durante mais de dois séculos de história. 
Argumentos como “a qualidade das universidades vai cair” , “é uma forma de vantagem à apenas um segmento da sociedade”, “as cotas para afrodescendentes são preconceituosas, demonstram que eles não têm capacidade própria para passarem no vestibular” entre tantas outras, tentam analisar o ensino público do país, sob uma perspectiva pontual, esquecendo-se de que a posição subalterna ocupada pelos afrodescendentes foi fruto de processo histórico sofrido e sempre excludente. Não tiveram acesso à educação há duzentos anos atrás e vão continuar sem ter? Não. E é exatamente isso que demonstra os 10 votos favoráveis às cotas nas instituições de nível superior. 
Estando na moda ou não, agora é que são elas. A voz dos excluídos está não só sendo ouvida, como ecoando, e ecoando forte. E as redes sociais tiveram um papel fundamental nesta luta a favor das cotas. No FACEBOOK um dos sites mais famosos e populares do mundo, milhares e milhares de internautas trocaram suas fotos do perfil por imagens que diziam “COTAS JÁ” “#COTASIM” e o assunto foi amplamente discutido em comunidades voltadas para questões da negritude e nos próprios perfis de seus usuários. Este movimento demonstra claramente duas coisas: primeiro, que a população está atenta sim às coisas que estão acontecendo no congresso nacional e as decisões que os afetam direta ou indiretamente, tomando posições, falando, opinando e discutindo; segundo, as redes sociais tornaram-se uma esfera pública de debate, onde qualquer pessoa com acesso à internet pode falar, ser ouvido e discutir. 
As redes sociais tiveram uma força importante neste movimento favorável às cotas para afrodescendentes, dividindo espaço com assuntos não tão relevantes, como as novas pseudo-celebridades que surgem a partir de vídeos caseiros e viram hit na internet. Esse grande movimento de interação perpetrado pelas redes sociais demonstra que na era digital 2.0 em que experienciamos, só não se posiciona quem não quer. Mais uma vitória para o povo negro. Mais uma vitória para a educação brasileira. Mais uma demonstração da força da internet e da interconexão global. Aguardemos agora o eco do novo grito da sociedade brasileira #VETADILMA, e torcemos para que a presidenta ouça. 
Taísa Silveira, jornalista e aluna especial de Mestrado em Antropologia da UFBA

2 comentários:

Alex Pereira disse...

Acho que o comentário da jornalista é muito coerente com a nossa realidade, as Cotas veio para resgatar as injustiças não só para a comunidadde negra mais sim para todos os que são chamado de excluidos socialmente. O governo de Lula e o atual governo da Dilma vem neste sentido.
Para bens a jornalista Taisa Silveira pela bela materia.

Monica Silveira disse...

Parabéns Taísa ,ótimo texto e análise...Precisamos agora avançar ainda mais nas questões do negro,dos afrodescendentes e dos excluídos e à margem da sociedade.Precisamos de muito mais!
Matérias como esta ajudam na formação de opinião,e assim reletimos com mais qualidade para que possamos fazer uma sociedade mais justa e humana para todos!

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