terça-feira, 5 de junho de 2012

Minas Gerais - Bh recebe peça de Lázaro Ramos Namíbia Não! no Festival de Arte Negra


Fotos: Marcos Vieira/EM/D.A Press
Há certos temas que, em uma abordagem pelo viés da comédia, demandam cuidado extra. O racismo é um deles. Por exemplo, é legítimo querer provocar riso com histórias de segregação e discriminação que marcam o século. Mas não deixa de ser delicado. Qualquer tentativa nesse sentido carrega implícito risco de cair na vala do preconceito. Felizmente, não é o que ocorre com Namíbia, não!, espetáculo dirigido por Lázaro Ramos que abriu a programação do 6º Festival de Arte Negra (FAN). 
O texto de Aldri Anunciação, que inclusive divide a cena com Flávio Bauraqui, usa o humor para chamar a atenção sobre o quão absurdo é o racismo. A trama se passa em 2016, quando o governo brasileiro edita uma medida provisória determinando que todos os cidadãos de “melanina acentuada” sejam imediatamente devolvidos à África. É uma forma de o Brasil quitar a dívida acumulada com os afrodescendentes. 
Tomados pela indignação por mais uma atitude absolutista dos governantes, os personagens questionam vários clichês da negritude. Nem a questão das cotas escapa da análise, ainda que também apareça sob o viés da comédia. O problema é que, ao longo dos 70 minutos da montagem, a ironia da abordagem vai se perdendo. Se em um primeiro momento a plateia ri quando a melanina acentuada de celebridades é lembrada, à medida que o espetáculo avança as piadas se tornam repetitivas, o que compromete a dinâmica da trama.
Excessos Estreando no posto de diretor, Lázaro Ramos se valeu de recursos que extrapolaram as fronteiras do teatro e se embaralhou. Nada contra o uso de vídeos e locuções em off, mas em Namíbia, não! os recursos pecam pelo excesso. Em determinados momentos, chegam inclusive a se dispersar da questão central. O cenário branco, em acrílico, de Rodrigo Frota, ganha destaque ao favorecer, bastante, os recursos de iluminação criados por Jorginho Carvalho. 
Namíbia, não! chegou a Belo Horizonte respaldada pelo sucesso de público que conquistou em outras capitais. Ao todo, segundo os cálculos de Aldri Anunciação, a dupla foi vista por 20 mil pessoas. Depois da temporada no FAN, o espetáculo fica em cartaz no Teatro Oi Futuro Klauss Vianna no fim de semana.

Com cara de improviso 
A estreia de Namíbia, não! na programação do FAN marcou a reabertura temporária do Teatro Francisco Nunes. Apesar de concluídas as obras do teto e da parte elétrica, e tendo em conta que o espaço ficou três anos fechado para as reformas, a adaptação preparada para receber não só o FAN, mas também o Festival Internacional de Teatro Palco e Rua de Belo Horizonte (FIT), é uma nítida improvisação. 
“Demorou muito para fazer isso. Parece que foi meio improvisado. Não ficou legal”, disse o estudante Eduardo Rocha Fonseca. “Não está pronto. Se for devolver para a população desse jeito, não mudou nada. Se abriu só por causa do evento, isso não deveria ter ocorrido. Não faz sentido atrasar uma obra e reabrir assim”, completou a estudante Poliana Oliveira.
Inaugurado em 1950, o Teatro Francisco Nunes foi fechado para reformas em abril de 2009. Na época, o espaço foi interditado por risco de desmoronamento do teto. Para que os problemas na estrutura do telhado fossem solucionados, as poltronas do local foram retiradas e substituídas por arquibancadas provisórias montadas exclusivamente para atender as demandas dos festivais. 
Apesar de os bancos terem sido instalados com a inclinação adequada e de oferecerem, dentro do possível, certo conforto, um ponto que gera incômodo no espaço é o ar-condicionado. Como o teto ainda permanece sem rebaixamento, os tubos por onde o vento passa estão destampados, o que impossibilita o controle da temperatura e faz barulho. 
De acordo com Adyr Assunção, um dos curadores do FAN, o que pesou para o uso do Francisco Nunes como uma das instalações do evento foi o significado que o teatro carrega. “Tínhamos a ocupação do Parque Municipal planejada e seria fundamental que tivéssemos também o Chico Nunes como equipamento, até porque ele era negro. Tem uma coisa simbólica. Mas o teatro ainda vai passar por reforma. Ele foi adaptado para o festival”, esclarece.
Em nota, a Fundação Municipal de Cultura reafirmou o caráter provisório da reabertura. “O teatro só será reaberto em caráter definitivo depois de uma segunda etapa da reforma, que será realizada com patrocínio de uma empresa, por meio do projeto Adote um bem cultural. Essa segunda etapa significará a modernização do teatro como um todo, além da restauração de suas fachadas externas (mosaicos)”, planeja. (CB) 

Namíbia, não!
Amanhã e sábado, às 21h; domingo, às 19h, no Teatro Oi Futuro Klauss Vianna, Avenida Afonso Pena, 4.001, (31) 3229- 3131. Ingressos: R$ 30 (inteira) 
e R$ 15 (meia).

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